O mioma uterino, também conhecido como leiomioma ou fibroma, é um crescimento benigno que se desenvolve na parede muscular do útero. É uma das condições ginecológicas mais comuns, afetando uma grande porcentagem de mulheres em idade reprodutiva, embora muitas delas nunca apresentem sintomas e nem sequer saibam que os possuem. A incidência de miomas é maior em mulheres na faixa dos 30 e 40 anos, diminuindo após a menopausa, o que sugere uma forte relação com os hormônios femininos estrogênio e progesterona. O tamanho dos miomas pode variar desde microscópicos até massas grandes que podem distorcer o útero, e uma mulher pode ter um único mioma ou múltiplos miomas.
Apesar de serem benignos, os miomas podem causar uma série de sintomas incômodos que impactam significativamente a qualidade de vida, como sangramento menstrual excessivo, dor pélvica e pressão abdominal. Compreender o que são os miomas, como são diagnosticados e quais as opções de tratamento disponíveis é fundamental para que as mulheres possam buscar o manejo adequado e melhorar seu bem-estar.
O Que Causa o Mioma Uterino? Fatores de Risco
A causa exata do mioma uterino ainda não é totalmente compreendida, mas sabe-se que seu crescimento está diretamente ligado aos hormônios estrogênio e progesterona. Miomas tendem a diminuir após a menopausa, quando os níveis hormonais caem. Além disso, outros fatores de risco incluem:
- Idade: Mais comuns em mulheres entre 30 e 50 anos.
- Histórico familiar: Mulheres com mães ou irmãs que tiveram miomas têm maior probabilidade de desenvolvê-los.
- Raça: Mulheres afro-americanas têm uma incidência maior de miomas e geralmente os desenvolvem em idade mais jovem, com sintomas mais graves.
- Obesidade: Aumento do peso corporal está associado a um maior risco de miomas.
- Dieta: Consumo excessivo de carne vermelha e deficiência de vitamina D podem aumentar o risco, enquanto dietas ricas em vegetais e frutas podem ser protetoras.
- Nuliparidade: Mulheres que nunca tiveram filhos têm um risco ligeiramente maior.
Tipos de Mioma Uterino: Classificação pela Localização
Os miomas são classificados de acordo com sua localização na parede uterina, o que influencia diretamente os sintomas que podem causar:
- Miomas intramurais: São os mais comuns, localizados dentro da parede muscular do útero. Podem causar aumento do sangramento e dor se forem grandes.
- Miomas subserosos: Crescem na superfície externa do útero. Geralmente não afetam o sangramento menstrual, mas podem crescer a ponto de pressionar órgãos vizinhos (bexiga ou intestino), causando sintomas como urgência urinária ou constipação. Podem ser pediculados (ligados ao útero por um “pedúnculo” fino).
- Miomas submucosos: São os menos comuns, mas os que mais frequentemente causam sintomas graves. Crescem logo abaixo do revestimento interno do útero (endométrio) e podem se projetar para dentro da cavidade uterina. Causam sangramento menstrual muito intenso e prolongado, cólicas severas e podem interferir na fertilidade e na gravidez.
Sintomas do Mioma Uterino: Quando Procurar Ajuda
Muitas mulheres com miomas são assintomáticas. No entanto, quando os sintomas aparecem, eles podem ser bastante debilitantes. Os mais comuns incluem:
- Sangramento uterino anormal: Este é o sintoma mais frequente, caracterizado por períodos menstruais pesados (menorragia), prolongados ou sangramento entre os períodos (metrorragia). Isso pode levar à anemia.
- Dor pélvica: Cólicas menstruais intensas (dismenorreia), dor durante a relação sexual (dispareunia) ou dor pélvica crônica.
- Sensação de peso ou pressão pélvica: Especialmente em miomas grandes.
- Aumento do volume abdominal: Em casos de miomas muito grandes.
- Sintomas urinários: Urgência para urinar, aumento da frequência urinária ou dificuldade para esvaziar a bexiga, devido à pressão do mioma na bexiga.
- Sintomas intestinais: Constipação ou dificuldade para evacuar, se o mioma pressionar o reto.
- Problemas reprodutivos: Dificuldade para engravidar (infertilidade), abortos de repetição ou complicações durante a gravidez e o parto (mais comum com miomas submucosos).
Se você apresentar algum desses sintomas, é fundamental procurar um ginecologista para uma avaliação adequada.
Diagnóstico do Mioma Uterino
O diagnóstico do mioma uterino geralmente começa com um exame pélvico de rotina, onde o médico pode sentir o útero aumentado ou irregular. Para confirmar o diagnóstico e determinar o tamanho e localização dos miomas, exames de imagem são utilizados:
- Ultrassonografia pélvica (abdominal ou transvaginal): É o método mais comum e eficaz para identificar miomas. Permite visualizar o número, tamanho e localização dos tumores.
- Ressonância Magnética (RM) da pelve: Fornece imagens mais detalhadas e é útil para mapear miomas maiores ou múltiplos, especialmente antes de cirurgias ou para diferenciar miomas de outras massas.
- Histeroscopia: Em casos de suspeita de miomas submucosos, um pequeno telescópio é inserido através do colo do útero para visualizar o interior da cavidade uterina.
- Histerossalpingografia: Um raio-x com contraste que pode mostrar a forma da cavidade uterina e tubas uterinas, útil para avaliar miomas que podem estar afetando a fertilidade.
Opções de Tratamento para Mioma Uterino: Uma Abordagem Individualizada
O tratamento do mioma uterino é altamente individualizado e depende de fatores como a idade da paciente, o tamanho e a localização dos miomas, a gravidade dos sintomas, o desejo de ter filhos e a proximidade da menopausa. As opções variam desde o acompanhamento expectante até intervenções cirúrgicas:
- Observação e Acompanhamento: Para mulheres assintomáticas ou com sintomas leves, especialmente se os miomas forem pequenos ou se a mulher estiver se aproximando da menopausa (quando os miomas tendem a encolher).
- Tratamento Medicamentoso: Visa controlar os sintomas, principalmente o sangramento e a dor.
- Analgésicos: Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) para alívio da dor menstrual.
- Suplementos de ferro: Para tratar a anemia causada por sangramento excessivo.
- Contraceptivos hormonais (pílulas, adesivos, anel vaginal, DIU hormonal): Reduzem o sangramento menstrual e as cólicas, mas geralmente não encolhem os miomas significativamente. O DIU hormonal (Mirena) é particularmente eficaz para reduzir o sangramento.
- Agonistas do GnRH (Gonadotropin-Releasing Hormone): Induzem um estado de “menopausa temporária”, encolhendo os miomas e reduzindo o sangramento. São usados por um período limitado (geralmente 3-6 meses) antes da cirurgia para diminuir o tamanho do útero e reduzir o sangramento durante o procedimento.
- Antagonistas do GnRH: Mais recentes, atuam de forma semelhante aos agonistas, mas com um perfil de efeitos colaterais potencialmente melhor e um controle mais rápido dos sintomas.
- Ácido Tranexâmico: Reduz o sangramento menstrual ao promover a coagulação do sangue.
- Procedimentos Minimamente Invasivos:
- Embolização da artéria uterina (EAU): Um radiologista intervencionista injeta pequenas partículas nas artérias que fornecem sangue aos miomas, bloqueando o fluxo e fazendo-os encolher. É uma opção eficaz para miomas sintomáticos, com recuperação mais rápida que a cirurgia.
- Ablação por radiofrequência: Utiliza calor para destruir o tecido do mioma. Pode ser realizada por via laparoscópica ou transvaginal.
- Miomectomia histeroscópica: Para miomas submucosos que se projetam na cavidade uterina, o mioma é removido através de um histeroscópio inserido pelo colo do útero, sem cortes na barriga.
- Tratamento Cirúrgico:
- Miomectomia: Remoção apenas dos miomas, preservando o útero. É a opção preferida para mulheres que desejam preservar a fertilidade. Pode ser realizada por laparoscopia (minimamente invasiva), laparotomia (cirurgia aberta) ou histeroscopia (para miomas submucosos).
- Histerectomia: Remoção cirúrgica do útero. É o tratamento definitivo para miomas e é considerada para mulheres que não desejam mais ter filhos e cujos sintomas são severos e não respondem a outros tratamentos. Pode ser realizada por via abdominal, vaginal ou laparoscópica.
A escolha do tratamento deve ser feita em conjunto com um ginecologista experiente, considerando todas as particularidades do caso. A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) fornece informações e diretrizes valiosas para o manejo do mioma uterino, reforçando a importância de um diagnóstico e tratamento individualizados para melhorar a qualidade de vida da mulher.